A chuva ao longo de todo sábado afugentou os guerreiros no domingo. Fui para o posto Santa Amália acreditando que seria um pedal tranquilo, pedal longo e giro leve. Havia voltado para os longões apenas a uma semana.
Vindo pela BR393 tudo indicava que era o Zé Guilherme que esperava no posto e era. Trocamos algumas palavras e logo pegamos a BR rumo a Paraiba do Sul. Lado a lado giramos leve por alguns minutos, conversando sobre as últimas novidades, sobre tudo que diz respeito a bike, até que tudo mudou bem rápido.
Zé percebeu que se interteu por tempo demais com a conversa, então virou abruptamente para mim e disse: “cola aí atrás para vc não quebrar”. A conversa que vinha em tom amistoso até aquele momento mudou e mudou rápido. O ritmo subiu como se ele quisese recuperar o atraso causado por aqueles 10km de conversa. Nesse momento percebi que meu plano de girar leve por muito tempo entrou em conflito com o plano dele, girar duro por muito tempo.
Havíamos girado pouco menos de 10km e ainda faltava 90. Eu ainda pensei em desrespeitar a ordem direta que havia recebido e tentar revesar em uma proporção vantajosa para mim, algo como 1km na frente e 4 atrás. Mas sair do vácuo da moto que a bike do Zé havia se transformado parecia tarefa impossível, nas retas até Andrade Pinto o mínimo que via no meu gps era 37km/h e por várias vezes algo girando em torno dos 45.
Comecei achar aquilo tudo estranho, pois o Zé não dava nenhum sinal de fadiga, ritmo bem cadenciado, mantendo uma linha bem reta no acostamento, quadril estável, ou seja, ele não estava fazendo muita força e eu parecia estar no fio da navalha para me manter a centimetros da roda dele e aproveitar todo vácuo possível. Comecei a calcular em qual diagonal o vento estava vindo e deslocar para diminuir ao máximo o arrasto. Estava tentando maximizar tudo para conseguir me manter no ritmo dele, cheguei a pensar em jogar as paçocas fora junto com a água da segunda garrafa que estava levando.
Apesar do sufoco, no caso meu sufoco, chegamos em Paraíba do Sul, metade do percurso. Em um momento de devaneio cheguei a falar para ele não parar e voltar dali mesmo sem colocarmos o pé no chão. Eu já sabia que seria impossível continuar naquele ritmo por mais 50km/h, mas contornamos na rotatória da entrada da cidade e voltamos em direção a Vassouras, sem paradas e sem refresco.
A conversa no início do pedal havia chamado a atenção do Zé e ele retomou o papo novamente, agora que estavamos voltando. Percebi esse momento de fraqueza e tentei deixar a conversa o mais interessante possível, conseguindo assim manter o pedal nesse ritmo amistoso, sem precisar dizer que estava forte demais o ritmo anterior e assim mantendo a compostura.
Fui bem sucedido na estratégia e mantive a conversa por 20km. Foi quando o Zé avistou um ciclista passando por nós, enquanto ele repunha água da garrafinha em um ponto de apoio da concessionária que administra a pista. Então voltamos para pista e começou a caçada e o pobre coitado que estava no lugar errado na hora errada, no caso eu, começou a pensar que essa estravagança iria complicar os 30km que ainda faltavam.
O nome do ciclista era Ercules, de Avelar, fomos descobrir alguns quilômetros depois. Passamos que nem uma bala pelo Ercules que nem teve tempo de reagir. Abrimos até não ser mais possível enxerga-lo na pista. Mas mesmo assim o Zé não parava, continou colocando pressão não parecendo ter fim e realmente parecia estar montado em uma moto. Faltando ainda cerca de 20km comecei a achar que eu realmente iria quebrar se continuasse nesse ritmo, mesmo na roda.
Comecei a perder a roda e então o Zé percebeu que a moto estava rápida demias, afroxou a manopla e emparelhou do meu lado, me aconselhou a colocar glicose para dentro. Relutei achando que nem a glicose daria jeito, mas em seguida concordei. Ercules encostou na gente e fomos conversando até a entrada de Massambará, onde ele subiu bem, ensaiando inclusive um ataque no pé da subida, que foi devidamente neutralizado pelo Zé.
No topo da serra paramos e conversamos um pouco antes que ele voltasse no sentido de Três Rios, nos disse que pesava 130kg e havia perdido 61kg em um ano e meio, somente pedalando. História incrível. Ficamos de chama-lo para o próximo pedal e seguimos até Vassouras.
O treino foi ótimo e mostra a importância de treinar com alguém mais forte que você, te deixando fora da zona de conforto e colocando ritmo forte no treino.
Participantes do longão | Cidade |
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José Guilherme | Vassouras |
Danilo Gasiglia | Vassouras |
Ercules | Paty do Alferes |
Que massa…treino bom p pegar ritmo…rsrs…q sufoco hein…