A sigla CIMTB é a abreviação de Copa Internacional de Mountain Bike, a Formula 1 do Mountain Bike, título dado pela minha esposa ao chegar ao complexo do evento. As principais marcas do ciclismo nacional e internacional expõem suas bikes e equipamentos no patio central. Os principais atletas do Brasil participam e formam a Super Elite. Sem dúvida é a maior prova da modalidade na América Latina e muito provavelmente da América do Norte também.
Mês passado decidi me inscrever na categoria Master da prova, só que na versão para amadores, chamada de Copa Sense. O percurso é igual ao das categorias profissionais, só que na teoria você deveria correr com amadores. Além da importância da prova no cenário mundial, a prova é conhecida pelo alto nível técnico dos seus circuitos nas poucas etapas ao longo do ano, o que não foi diferente em Petrópolis, com obstáculos complexos de ultrapassar, variações de subidas e descidas constantes, onde as subidas são curtas e extremamente ingrimes e descidas alucinantes.
Uma prova com um circuito desse nível não atrai amadores, nem mesmo na categoria para amadores, boa parte dos inscritos na Master já foram profissionais ou ainda são no que podemos chamar de segunda divisão do ciclismo. Mas nada disso me coagiu, nem mesmo o fato da primeira volta da prova ser a minha primeira volta no circuito, ou seja, eu faria o reconhecimento do circuito em tempo real de prova.
No Cross Country, modalidade da prova em questão, não é uma pratica usual você reconhecer a pista exatamente no momento da prova. Mas eu estava determinado a sair com um bom resultado na prova. Então as 15:30 de um sábado meio nublado, eu estava alinhado com cerca de 50 atletas com o objetivo de ao mesmo tempo conhecer e competir nos 4,5 quilômetros de pista.
Minutos antes da prova começar eu olho pro meu monitor cardíaco e percebo que meu batimento está a 140 batimentos por minuto, isso sem mexer um músculo ainda. Certamente era a expectativa do bom resultado que estava por vir. Nesse mesmo momento me lembrei da conversa que tive com o Robson Ferreira, amigo e compadre que acabava de ganhar a prova na categoria Ciclo Cross horas antes, onde ele me disse que o percurso começava com uma sequência de subidas bem forte.
Largamos e minha ideia desde o início seria largar forte com o objetivo de enfrentar bem a sequência de subidas para tentar executar uma fuga, ainda na primeira volta, na sequência de descidas que vinha logo em seguida. E assim foi feito, logo após começar as descidas executei uma sequência de fugas sucessivas que fez um rapaz de azul e preto que vinha no meu encalço sumir. Acredito que a habilidade dele de narrar a prova enquanto corria também o atrapalhou, pois ele vinha atrás de mim gritando “subida.. subida forte.. força.. força”. Isso era bom e ruim, tendo em vista que eu não conhecia o circuito, mas depois de dois ou três minutos nessa batida, não escutei mais a narração, olhei para trás e não vi mais a versão mais magra do Galvão.
Comecei a prova achando que o problema seriam as subidas e quando cheguei na parte das descidas vi onde realmente estava o problema. Percebi isso bem na primeira curva. As curvas tinham um alto desnível bem no meio delas, era um cotovelo com um desnível descompensado ladeira abaixo. Ao entrar nessa primeira curva percebi que não daria pra fazer e em uma fração de segundos bateu aquele arrependimento de não ter feito o reconhecimento antes, tendo em vista que moro no Rio que é relativamente próximo de Petrópolis. Me pareceu eminente a queda, então comecei a pensar em como minimizar o tombo, como a curva era as cegas em função do desnível, foi instintivo juntar no freio de traz e ajudar com o freio da frente. Nisso a bike começou a deslizar com as rodas dianteira e traseira ao mesmo tempo, fazendo algo similar a um drift e milagrosamente tomei o controle dela novamente.
Na volta seguinte já estava sabendo o que vinha pela frente, então minha velocidade média aumentou e continuei implementando as fugas, uma atrás da outra, inclusive nas descidas, agora sabendo que me esperava pela frente, atravessei toda a sequência de cotovelos imprimindo velocidade com mais estabilidade.
No final da volta escutei um “Vai Ernani falta pouco”. Quando percebi o Ernani já estava lado a lado comigo, fazendo força no último top que da acesso a ponte que faz conexão com a reta de chegada. Não tinha mais o que fazer, ele estava abrindo e eu com poucas forças para fazer frente. Ele foi se a aproximando da linha de chagada, quando a organização anuncia “Lá vem Ernani para vencer na categoria Master”, numa distância de 15 ou 20 metros eu vinha mais atrás, percebi que o locutor não sabia meu nome e as pessoas se perguntando quem era esse que quase alcançou o Ernani na chegada, o que era bem natural, eu não corro o circuito do CIMTB e inclusive era minha primeira vez na prova.
Apesar de lutar com o Ernani na reta de chegada, quando cruzei a linha de chegada não sabia se ficava triste ou contente por ser ultrapassado por ele no final, pois se eu cruzasse a linha de chegada na frente dele teria que abrir a duríssima terceira volta, ou seja, estava tomando uma volta do primeiro. As fugas que implementei ao longo do circuito é o nome que se da a saída alternativa aos obstáculos, normalmente usado pra poupar equipamento, evitar riscos ou quando você não conhece bem os obstáculos.
Essa foi a história que contei ao Marcos Coala (quinto na cadete) e ao Robson (primeiro na ciclo cross) assim que voltei ao pátio central, eles com bom resultados e eu tinha que voltar com algum resultado também. Uma maneira divertida de encarar uma prova que você caiu de para quedas. Em uma prova extremamente rápida e agressiva como o cross country do CIMTB, não tem espaço para reconhecer a prova durante o percurso, já sabia disso desde o início, mas o objetivo na prova foi realmente ter a experiência, mesmo meu coração vacilando na largada com seus 140 bpm.