A cerca de meio século atrás Brigitte Bardot colocou Búzios no mapa ao passar férias na então vila de pescadores no balneário. Na foto da atriz tirada em 1964, é possível ver a orla de Búzios ao fundo. Orla essa que 55 anos depois serviu de palco para uma das mais divertidas e tensas perseguições que participei.
Como a foto, bonita e selvagem foi essa última etapa do XTERRA. A largada foi na icônica Rua das Pedras sem muitas surpresas. Larguei no meio do pelotão e isso me permitiu imprimir um bom ritmo até o km 30. Chegando no pequeno pelotão onde a então líder da Elite feminina estava, Roberta Stopa. Nesse ponto já tinha sido uma vitória para mim, alcançar e conseguir me manter no pelotão de uma atleta que já foi campeã brasileira, tanto nas modalidades XCO e XCM, não teve preço.
Me sentindo bem, depois de cerca de 5 km não roda do compacto pelotão, três ou quatro ciclistas mais a Roberta. Tomei a frente em uma pequena descida e na subida seguinte já comecei a abrir deles. Ganhei mais algumas posições e foi quando encontrei no final de uma subida um ciclista de Juiz de Fora.
Passei por ele e percebi que ele conseguiu se manter logo atrás na sequência de descidas bem íngremes. Quando chegamos no plano perguntei o nome dele, Leandro, então propus um revezamento para quebrar o vento. Ele me disse que só estava tentando se manter na prova. Mas tudo mudaria no último quilômetro de corrida.
Por volta do km 45 fomos nos aproximando do centro da cidade, passando por algumas praias, inclusive na areia de duas ou três delas. Cheguei a abrir um pouco do Leandro, nessa altura já estava desconfiado que estávamos disputando na mesma categoria, Master A2 (35 a 39 anos). Errei em uma das ruas e o próprio Leandro que vinha mais atrás me gritou dizendo que estava no caminho errado, olhei no GPS e confirmei o erro.
Perdi cerca de um minuto, mas foi tempo suficiente para ele abrir cerca de 300 metros de mim. Fiz força pra tirar essa diferença, nessa altura já tinha certeza que estávamos disputando na mesma categoria. Alcancei meu parceiro de corrida faltando cerca de 4 ou 3 km. Trocamos mais algumas palavras e pegamos uma sequência de descidas que iria conectar na rua de acesso a orla, onde foi a largada e também seria a chegada.
Apesar de conhecer bem Búzios, não estava muito familiarizado com quantos km ou metros faltavam nessa rua de acesso até a chegada. Na minha mente faltava cerca de 500m, ataquei o Leandro e mais um ciclista que também parecia ser da Master A2.
Ataquei acreditando que o Leandro e o outro ciclista não conseguiriam acompanhar e o plano funcionou para o rapaz, mas não para o Leandro. Ele veio na minha roda e a essa altura eu já estava percebendo que a orla sinuosa de Búzios havia me traído. Não faltava apenas 500 metros, então tentei aumentar ainda mais o ritmo para ver se ele largava o osso.
Nesse momento já tinha certeza que estávamos disputando o primeiro e segundo lugar da categoria, a briga estava feroz. Nos últimos 100 metros comecei a perceber que ele estava saindo da minha roda e começando a emparelhar comigo. Nós últimos dez metros ele conseguiu colocar um palmo de roda na minha frente.
Nesse último km de briga, atingi a incrível marca de 200bpm de média da frequência cardíaca e um topo histórico de 202 bpm. Máxima de 40 km/h no plano, em cima de uma MTB. Alguém criou um segmento na orla para esse último km da corrida, no total foram 849 ciclistas que passaram por esse segmento e eu consegui o oitavo tempo depois de 3 duras horas de pedal.
Essa briga maluca de foice no final da corrida, não foi pelo primeiro e segundo lugar, mas pelo décimo primeiro e décimo segundo lugar da categoria. Colocar o rpm do motor a 202 bpm sem valer um real ou um pódio mostra o quanto esse esporte consegue te envolver! Que venha a temporada de 2020!
Ficou massa demais, já pensou em começar a montar pra ser um blogueiro, falar sobre as provas e etc… mas com video, acho que vai ser masssa demais… sabe quanto esses caras ganham? pensa nisso
Essa ficou na memória!
Muito bacana o texto e o relato de como foi emocionante essa prova, valeu demais a parceria Danilo, a partir de Tucuns revezando roda e um puxando o outro na motivação até o final, e se não tivesse rolado nosso sprint final, não teria sido tão emocionante. Que prova, que lugar… Tmj parceiro! Obrigado pelo depoimento e lembrança!